Foi Lobato que, fazendo a herança do passado submergir no presente, encontrou o novo caminho criador de que a Literatura Infantil brasileira estava necessitando.
Seu sucesso imediato entre os pequenos leitores ocorreu de um primeiro e decisivo fator: a realidade comum e familiar à criança, em seu cotidiano, é, subitamente, penetrada pelo maravilhoso, com a mais absoluta verossimilhança e naturalidade. Com o crescimento e enriquecimento do fabuloso mundo de suas personagens, o maravilhoso passa a ser o elemento integrante do real. Assim é que personagens "reais" (Lúcia, Pedrinho, D. Benta, Tia Nastácia, etc.) têm o mesmo valor das personagens "inventadas" (Emília, Visconde de Sabugosa e todas as personagens que povoam o universo literário lobatiano).
A vasta produção de Lobato, na área de Literatura Infantil, engloba obras originais, adaptações e traduções. Dentre os originais estão: "A Menina do Nariz Arrebitado"; "O Saci"; "Fábulas do Marquês de Rabicó"; "Aventuras do Príncipe"; "Noivado de Narizinho"; "O Pó de Pirlimpimpim"; "Reinações de Narizinho"; "As Caçadas de Pedrinho"; "Emília no País da Gramática"; "Memórias da Emília"; "O Poço do Visconde"; "O Picapau Amarelo" e "A Chave do Tamanho".
Nas adaptações, Lobato preocupou-se com um duplo objetivo: levar às crianças o conhecimento da tradição, o conhecimento do acervo herdado e que lhes caberá transformar; e também questionar, com elas, as verdades feitas, os valores e não-valores que o tempo cristalizou e que cabe ao presente redescobrir e renovar. Nesse sentido, merecem destaque: "D. Quixote das Crianças"; "O Minotauro" e a mitologia grega na série "Os Doze Trabalhos de Hércules".
Seu trabalho como tradutor foi extremamente fecundo, foram numerosíssimas as obras importantes traduzidas, das quais merecem especial relevo: "Alice no País das Maravilhas" de Lewis Carroll; "O Lobo e o Mar" de Jack London; "Pollyana" e "Pollyana Moça" de Eleanor Porter; "Novos Contos" de Andersen e "Contos de Fadas" de Perrault.
A genialidade e singularidade de Monteiro Lobato foi mostrar o maravilhoso como possível de ser vivido por qualquer um. Com a mistura do mundo imaginário com a realidade concreta, ele mostra, no mundo cotidiano, a possibilidade de ali acontecerem aventuras maravilhosas que, em geral, só eram possíveis nos contos de fadas, ou no mundo da fábula, e, mesmo assim, vividas por seres extraordinários.
Se há algo que Lobato sempre recusou em seus textos foi o sentimentalismo tão em voga em sua época. Substituiu-o pela irreverência gaiata, pelo humor e pela ironia. Também nas muitas adaptações que fez de livros clássicos da Literatura Infantil, eliminou a sentimentalidade piegas.
Emília é a personagem mais importante para se compreender o universo lobatiano. Ela revela-se como o protótipo-mirim do "super-homem", com sua vontade e domínio, além de exacerbado individualismo. Como intenção de valorização, aparece o espírito líder que caracteriza a boneca, a obstinação com que ela sabe querer as coisas, ou como mantém seus pontos de vistas e opiniões. Positiva, também, são sua incessante mobilidade e sua curiosidade aberta para tudo. Com intenção de sátira dos desmandos sociais, apresenta-se o consciente despotismo com que Emília age em certos momentos.
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