As célebres figuras alongadas dos quadros de El Greco, objeto de muitas polêmicas, e suas cenas religiosas revelam um pintor de grande espiritualidade e domínio técnico, com uma pincelada solta e livre aprendida em Veneza.
Domenikos Theotokopoulus, conhecido como El Greco, nasceu em 1541 em Cândia, posteriormente Heracléia, na ilha grega de Creta, na época possessão veneziana. Há poucos dados sobre seus anos de formação. Na ilha pôde conhecer a pintura bizantina de ícones, cujo estilo idealizado nunca esqueceria.
Em 1560 mudou-se para Veneza, onde aprendeu com Ticiano a técnica da cor e da composição. Por volta de 1570 El Greco encontrava-se sob a proteção do cardeal Alessandro Farnese, em Roma, onde estudou o tratamento do nu nas obras de Michelangelo.
Seus primeiros quadros, como "Cristo expulsando os vendilhões do templo" (1560-1565, National Gallery of Art, Washington), mostram já a assimilação da estética veneziana no que se refere à luz, ao colorido e à construção espacial.
Posteriormente, El Greco trocou a Itália pela Espanha, atraído pela construção do mosteiro do Escorial, perto de Toledo, que oferecia enormes possibilidades de trabalho aos pintores italianos. Em 1576 conheceu, em Madri, Jerónima de las Cuevas, com quem teria um filho.
É no ano seguinte, ao instalar-se em Toledo, cidade onde residiu o resto da vida e que ficou ligada desde então à fama do pintor, que El Greco entra realmente para a história da arte. Toledo havia sido, até 1561, capital de grande prestígio e iniciara sua decadência com a mudança da corte para Madri.
Logo surgiram as encomendas e El Greco pintou os retábulos da igreja de santo Domingo el Antiguo e "O espólio" (1577-1579) para a catedral de Toledo. Para o Escorial realizou o famoso "Martírio de são Maurício e de sua legião tebana" (1580-1582); suas deformações contrárias ao naturalismo clássico desagradaram a Filipe II, o que provocou o afastamento de El Greco do núcleo de pintores da corte e sua completa reclusão em Toledo.
Sua posterior produção artística encaminhou-se em três direções: os retratos, onde buscou mostrar a vida interior dos personagens; a série de santos e apóstolos; e os quadros de cenas religiosas, nos quais mostrou um estilo particular, com figuras alongadas -- que alguns críticos creditavam a um defeito de visão -- composições assimétricas, formas serpenteantes, grande expressividade de cor e, sempre presente, uma enorme força espiritual.
Entre os retratos, pintou em torno de 1580 um dos mais conhecidos, "Homem com a mão no peito" (Museu do Prado, Madri). Trata-se de um personagem sereno e melancólico, com grande expressividade no rosto e nas mãos, predominando os tons escuros.
Entre 1586 e 1588 pintou seu quadro mais célebre, "Enterro do conde de Orgaz", para a igreja de São Tomé, em Toledo, baseado numa lenda toledana segundo a qual os próprios santo Agostinho e santo Estêvão haviam comparecido ao enterro do senhor de Orgaz, virtuoso cavaleiro cristão.
O quadro divide-se em duas cenas: uma terrena e outra divina. Na parte inferior, os santos mencionados enterram o conde, na presença da nobreza toledana e de destacados eclesiásticos. Na superior, onde está a corte celestial, um anjo eleva a alma do defunto. O êxito foi de tal ordem que o pintor teve que organizar um estúdio para atender às numerosas encomendas.
Entre as séries religiosas de El Greco destaca-se a dos "Apostolados" (1602-1605), para a sacristia da catedral de Toledo. Suas últimas obras, como "Adoração dos pastores" ou "Laocoonte" (c.1610-1614, National Gallery, Washington) mostram um mestre da expressividade das figuras. El Greco morreu em Toledo, em 7 de abril de 1614.
Nenhum comentário:
Postar um comentário