Um dos grandes mestres dos séculos XIX e XX, Goya só tem El Greco e Velásquez como iguais na pintura espanhola, e Dürer e Rembrandt na gravura mundial.
Francisco José de Goya y Lucientes nasceu em Fuendetodos, Saragoça, em 30 de março de 1746. Ainda jovem conseguiu uma bolsa na Real Academia de San Fernando em Madri.
Em 1786 foi nomeado pintor da corte por Carlos III, nomeação confirmada por Carlos IV. Em 1799, era o primeiro pintor da corte, mas retirou-se em 1808, quando o trono foi ocupado por José Bonaparte.
Reassumiu o cargo em 1814, com Fernando VII, mas a restauração do absolutismo levou-o a isolar-se na Quinta del Sordo, e em 1824, a mudar-se para Bordéus, na França.
Goya começou sua obra pelos afrescos convencionais da capela de Nuestra Señora del Pilar, em Saragoça. Pintou em 1787 "O prado de São Isidro". Suas inclinações realistas só se afirmaram a partir de 1792, em quadros como "O manicômio", "O tribunal da Inquisición", "Procissão de flagelantes" e o mais marcante "O funeral da sardinha", cenas realistas em que há um fluxo subterrâneo de visões fantásticas.
Em 1800, no auge do prestígio, pintou seus quadros mais discutidos, "Maja desnuda" ("Mulher despida") e "Maja vestida", e o famoso "A família de Carlos IV", que é um exemplo de como introduzia traços grotescos nas figuras. Em todos o realismo ora explode em erotismo, ora detém-se na análise desapiedada dos modelos.
Goya pintou também os episódios da invasão francesa, como o "Três de maio", que representa uma cena de fuzilamento de composição insólita. "Sabá das bruxas" e "Saturno" são o ápice da carreira e manifestam uma visão sombria da realidade.
Goya foi tão importante na pintura quanto na gravura, onde pôde manifestar de forma extremamente expressiva o espírito do humor espanhol, que tende para a deformação e até para o trágico. Predominam a sátira social, cheia de sarcasmo, os motivos eróticos e a feitiçaria, como obra oposta à razão, pois Goya era um iluminista e fustigava as crendices do tempo. Emblemática é a que traz a inscrição "O sono da razão produz monstros". O charlatanismo, a avareza, a vaidade, são seus alvos.
A sátira está entretanto ausente na coleção mais célebre de Goya, "Os desastres da guerra" (1810-1814), na qual o artista rememora as atrocidades das invasões napoleônicas na Espanha. É também o Goya mais "heróico", que exalta os patrícios -- sobretudo as mulheres -- e mostra a infâmia dos invasores: uma sucessão de mutilações, fuzilamentos, saques, tentativas de estupro e outros males da guerra.
A coleção de gravuras "Tauromaquia" escapa desse universo atormentado, para mostrar as façanhas e heróis célebres da plaza de toros. Nessa coleção, editada em 1816, Goya desenvolve um clima de dinamismo e tensão raros na arte da gravura.
Por volta de 1819, realizou o último dos seus conjuntos e o de mais difícil abordagem, os "Disparates". Há neles um caráter crítico, em que volta o gênio sarcástico de "Os caprichos", mas os temas são genéricos e há maior liberdade de composição e de proporção das figuras.
Existe ainda uma pequena série de obras litográficas. Das águas-fortes dispersas a mais impressionante é a intitulada "O colosso", um gigante sentado defronte a um quarto crescente, com o rosto voltado para o contemplador, talvez o emblema mais contundente dos enigmas de seu gênio artístico. Goya morreu em Bordéus, em 16 de abril de 1828.
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