Pós-Modernismo no Brasil
CONTEXTO HISTÓRICO:
O Brasil vive a euforia do aparecimento das grandes indústrias no governo de JK. A comunicação avança em passo acelerado. Surgem as grandes indústrias automobilísticas, instalação de muitas emissoras de rádio e TV, aparecem as redes de televisão, os satélites, emissoras de rádio, jornais, revistas, teatro. Nunca se respirou coisas tão novas antes.
Jânio Quadros substitui JK na presidência prometendo uma “limpeza” geral na administração e na economia. Mas seu péssimo governo desagradou a todos tendo que renunciar sete meses depois. Goulart assumindo o poder, piorou ainda mais a situação. Tudo isto veio culminar com o golpe militar de 1964 que mergulhou o país numa ferrenha ditadura, só terminando em 1979. A ditadura trouxe uma série de horrores ao país, mas para a cultura a pior de todas foi a censura. Assim os jornais, revistas, teatro, cinema, música e televisão tinham que passar por uma prévia censura antes de serem levadas ao público.
Mesmo assim muita coisa boa apareceu. No Brasil surge o cinema novo, abandonando os modelos de Hollywood, aparece o teatro novo, surgem os festivais de TV e com isto aparece o famoso grupo da bossa nova. O que mais se salvou dessa época foi a música. Tivemos o surgimento do Tropicalismo onde a produção poética era divulgada. Surge também o primeiro movimento poético: o Concretismo.
CONCRETISMO:
Foi lançado oficialmente a Exposição de Arte Concreta realizada no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo em 1956.
O grupo era formado por Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari que já estava formado desde 1952. Seus trabalhos eram lançados na revista criada por eles mesmos chamada de Noigrandres.
Seus criadores queriam produzir uma literatura à altura da sociedade da época, na qual os signos da técnica fossem valorizados de modo crítico.
Propunham o fim da poesia lírica e intimista, substituída por uma concepção de poesia fundada na concretude da palavra, isto é no seu aspecto verbal, sonoro e visual. Visto desta forma, a poesia transforma-se em objeto, que não representa sentimentos ou emoções, mas torna presente a realidade em si do poema.
Incorporando técnicas e recursos dos meios de comunicação, recuperando procedimentos das vanguardas modernas e sempre muito próximo das artes plásticas e visuais, o Concretismo visa captar e transmitir a realidade urbana, criticando indiretamente o capitalismo e a sociedade de consumo. Sua importância pode ser percebida na influência que até hoje existe na poesia brasileira.
Os teóricos do Concretismo consideravam que, a partir de um texto de Mallarmé ( um lanço de dados nunca abolirá o acaso) encerra-se o ciclo histórico do poema discursivo. Os concretistas propunham superar o tom declamatório da poesia tradicional, aproximando o poema das artes plásticas. Daí o apelo ao gráfico e ao visual, em consonância com o papel da comunicação visual da vida moderna. Buscavam a linguagem verbivocovisual (palavra-som-visual) o que implicava pôr em relevo o significante, o aspecto sensível do signo.
Além dos três fundadores acima, tivemos muitos outros brasileiros que seguiram esta corrente, tais como: Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Ronaldo de Azeredo, Reynaldo Jardim, José Lino Grunewald, José Paulo Paes, Pedro Xisto, Edgard Braga e outros.
Entre as principais características concretistas temos: poemas visuais, palavras entrecortadas ou figuras, poema em forma de figura, temas universais e atuais, primitivismo em alguns poemas.
vem navio
vai navio
vir navio
ver navio
ver não ver
vir não vir
vir não ver
ver não vir
ver navios
Hardoldo de Campos
POEMA PROCESSO:
O movimento do poema-processo foi lançado em 1967 através de exposições no Rio Grande do Norte e no Estado do Rio. Obedeceu a um planejamento assumido e buscou uma conscientização pública antecipando uma oposição de idéias ao estruturalismo, cuja difusão já se fazia no Brasil.
Pretendeu a instauração de uma nova linguagem, configurada sobretudo, no poema sem palavras e propôs uma nova codificação para o texto.
“O que o poema processo reafirma é que o poema se faz com o processo e não com palavras. Importante é o projeto e sua visualização, a palavra pode ser dispensada. Poesia é apenas um vocábulo. Com isto não estamos esquecendo o valor da palavra - como elemento oral na convivência humana diária: por exemplo, na leitura de uma planta arquitetônica, os valores da interligação e da circulação não são representados por preposições ou conjunções gramaticais, mas pela simples distribuição de vazios, por consequência é mais estratégia do que a funcionalidade da estrutura de engrenagens.”
Essa dispensa, entretanto, não deve ser entendida como um “combate rígido e gratuito ao signo verbal”, mas como uma “exploração planificada das possibilidades encerradas em outros signos (não-verbais)”.
O ideal do poema-processo é a estrutura - este mesmo conjunto de relações e tensões do objeto estético, mas cuja organização ou procura de unidade - a unidade da forma – não interessa ao poeta. O que lhe interessa é manter esta estrutura em “aberta”, em constante processo, ou seja, em constante relacionamento de suas partes, para que o objeto seja mostrado por dentro, em processo.
O poema-processo foi criado por Wladimir Dias Pino, mas tivemos muitos outros seguidores no Brasil. Entre eles Moacyr Cirne, Álvaro de Sá, Ronald Werneck, Joaquim Branco, Lara de Lemos, Dayse Lacerda entre outros.
Entre as características do poema-processo podemos destacar: linguagem não-discursiva, obras visuais, uso de figuras, palavra soltas, significados variados, não uso do verso, ideogramas, interpretação própria de cada pessoa.
Olhe bem o poema e faça uma interpretação própria:
CEU COR SOL
1 2 3
LUZ OVO ASA
4 5 6
AVE VOO VAE
7 8 9
Wladimir Dias Pinio
MOVIMENTO PRÁXIS:
Alguns membros do Concretismo foram abandonando os colegas e criaram outros grupos, formando novas correntes. Uma que sobreviveu, por ser bem mais elaborada foi o grupo da poesia-práxis.
Foi por volta de 1961 que Mário Chamie rompeu com os concretistas e partiu, com o apoio do veterano Cassiano Ricardo para o que chamou de Poesia-Práxis, intentando uma nova estrutura e um novo campo de relações fônicas. Em 1962, com a publicação do livro de Mário Chamie “Lavra-Lavra”, o manifesto didático dos praxistas veio à luz e alguns esclarecimentos teóricos sobre sua posição.
Os praxistas propõe como reação ao excessivo formalismo dos concretos, uma poesia dinâmica, que pode ser transformada pela interferência ou manipulação do leitor, ou seja, por sua prática (práxis). O poema não é mais um objeto fechado, concreto, mas uma matéria transformável, que permite múltiplas leituras. A poesia-práxis representa a retomada da importância do conteúdo, que fora suplantado pela excessiva valorização da forma pelos concretistas.
Na construção do poema-práxis são relevantes, em termos de técnica, três condições: o ato de compor, a área de levantamento da composição, o ato de consumir. O poema implica uma construção do espaço em preto, ou seja, das linhas de composição, onde as palavras criam sua multi-significação a partir das inter-relações que entre elas se estabelecem. Envolve ainda o que se denomina mobilidade intercomunicante, vinculada à intercomunicação vocabular, presente a partir do próprio processo de elaboração do texto, mas que possibilite também as múltiplas leituras a que o mesmo se abre. Há, portanto, desse modo, uma integração ativa entre a escrita e a leitura do poema. Neste, as palavras, enquanto signos, são consideradas sua unidade; enquanto em conotação com outras palavras do texto são multívocas; o texto, enquanto discurso unitário, reassume a sua condição unívoca.
Entre as características gerais do poema práxis temos: cada estrofe é original, linguagem de informação, leitura tridimensional, informação estética e semântica juntas, o poeta não escreve sobre temas, mas sobre áreas.
POESIA SOCIAL:
A poesia sofreu muitas transformações nos últimos anos. A linguagem da poesia permanece, mas em níveis menores. Houve uma volta à poesia discursiva. Um fato que fez com que a poesia voltasse foi a música. Muitos poetas novos também eram músicos, cantores ou compositores. A gravação em discos e fitas, apresentação em shows diversos por todo o país, os programas de rádio e televisão muito contribuíram com a nova arte velha.
Na música popular vamos ter cantores e poetas como: Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Gilberto Gil e outros. Esse casamento entre a música e a poesia já indica uma afinidade grande com a indústria cultural e os meios de comunicação de massa.
Essa poesia de massa recebeu o nome de poesia social. Ela não se preocupa mais com grandes causas ou sentimentos profundos. Sua ligação direta é com o cotidiano, ficando muito próxima do registro do instante, do minuto e daquilo que está no ar. Não importa mais a elaboração literária, o que importa é a expressividade direta, a confissão de sentimentos miúdos e comuns. Em vez do trabalho da construção literária, a pura expressão do eu. Os temas são despretensiosos e ingênuos, sempre com um toque de humor.
Essa poesia foi chamada de marginal, por pretender estar à margem de tudo, inclusive dos mecanismos do mercado. Assim, muitas vezes ela era mimeografada e reunida em cadernos artesanais. Organizavam-se happenings e shows musicais para distribuí-la, geralmente de mão em mão. Mas, apesar do nome, ela não é marginal: em seus temas e soluções formais percebem-se as marcas da sociedade de consumo e da comunicação de massa, da qual é uma perfeita tradução. Pode ser considerada, assim, como mais um produto pós-moderno.
Os temas, geralmente, são muito variados. Alguns se prendem em pequenos detalhes, pequenas coisas, outros se preocupam com coisas mais sérias. Entre os principais poetas temos: João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Adélia Prado, Mário Quintana, José Paulo Paes, Murilo Mendes.
As principais características da poesia social são: volta ao discursivo, poemas curtos, linguagem simples, corriqueira, entendível, temas voltados para a pobreza, a marginalidade, regionalismos, a não preocupação com a forma, preocupação com detalhes.
LIVRO SOBRE O NADA
Manoel de Barros
As coisas tinham para nós uma desunitilidade poética.
Nos fundos do quintal era muito riquíssimo o nosso desaber.
A gente inventou um truque pra fabricar brinquedos com palavras.
O truque era só virar bocó.
Como dizer. Eu pendurei um bem-te-vi no sol...
O que disse Bugrinha: por dentro de nossa casa passa um rio inventado.
O que nosso avô falou: o olho do gafanhoto é sem princípios.
Mano Preto perguntava: será que fizeram o beija-flor diminuído só para ver ele voar parado?
As distâncias somavam a gente pelo menos.
O pai campeava campeava.
A mãe fazia velas.
Meu irmão cangava sapos.
Bugrinha batia com uma vara no corpo do sapo e ele virava uma pedra.
Fazia de conta?
Ele era acrescentada de garças concluídas.
Ao usar este artigo, mantenha os links e faça referência ao autor:
PÓS-MODERNISMO NO BRASIL publicado 11/06/2010 por Henrique Araújo em http://www.webartigos.com
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/40337/1/POS-MODERNISMO-NO-BRASIL/pagina1.html#ixzz1GKdQBCh0
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