Prof. Marcio Carneiro

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domingo, 6 de março de 2011

Michelangelo Buonarroti 1475-1564

O legado artístico de Michelangelo constitui uma demonstração de gênio. A ele se devem obras imortais da escultura, como o "Davi" e o "Moisés"; da arquitetura, como a cúpula da basílica de São Pedro; e da pintura, como os afrescos da capela Sistina.

O humanismo renascentista, de que o genial artista constitui uma figura paradigmática, levou-o também a escrever uma notável obra literária, tanto em prosa como em verso.

Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni nasceu em 6 de março de 1475 em Caprese, localidade próxima à cidade toscana de Arezzo, Itália.

Quando ainda era criança, sua família mudou-se para Florença, onde, em 1488, entrou como aluno para o ateliê do pintor Domenico Ghirlandaio, com quem aprendeu as técnicas de afresco e painel. No ano seguinte, graças ao mecenato de Lourenço o Magnífico, passou a estudar escultura com Bertoldo di Giovanni no jardim onde a família senhorial de Florença conservava uma valiosa coleção de esculturas antigas.

Após a morte de Lourenço, em 1492, e pouco antes da expulsão da família Medici pelo pregador e reformador religioso Girolamo Savonarola, Michelangelo fugiu para Bolonha, onde, sob a influência de Jacopo della Quercia, esculpiu três estátuas para o túmulo de são Domingos.

De volta a Florença, esculpiu em madeira a "Crucificação" (autenticada somente em 1965), que doou a uma igreja em agradecimento por lhe terem permitido estudar os cadáveres ali conservados.

Em 1496 mudou-se para Roma, onde esculpiu "Baco", antes de voltar-se para a temática de inspiração religiosa que dominaria sua arte a partir de 1498. Sua grande obra do período é a "Pietà" de mármore que se encontra na basílica de São Pedro, em Roma, na qual a cena trágica contrasta com a serenidade do juveníssimo rosto da Virgem.

Retornou a Florença e, em 1501, recebeu o encargo de realizar as 15 figuras da capela Piccolomini da catedral de Siena e o colossal "Davi" de mármore, concluído em 1504. Essa estátua, hoje na Academia de Belas-Artes de Florença, veio a converter-se na encarnação do espírito e da força da cidade.

No mesmo ano, o artista começou a pintar o afresco "Batalha de Cascina" para a sala do conselho do Palazzo Vecchio florentino. Essa grande pintura, posteriormente destruída, suscitou certa rivalidade entre Michelangelo e Leonardo da Vinci, que estava pintando "A batalha de Anghiari" na parede oposta.

O papa Júlio II chamou o já célebre gênio toscano a Roma, em 1505, para encarregá-lo de um grande mausoléu com mais de quarenta figuras em tamanho natural. O projeto, que não chegou a ser concluído, acarretou muitos problemas para Michelangelo, desde assistência inadequada na execução do projeto a falta de pagamento. O escultor desentendeu-se então com o papa e fugiu de Roma.

Em Florença, Piero Solderini convenceu-o a desculpar-se. Júlio II lhe encomendou então uma estátua em bronze para a igreja de São Petrônio, concluída em 1508. Nesse mesmo ano, Michelangelo recebeu o primeiro pagamento do papa para iniciar a ampliação da capela Sistina, cujos afrescos pintou até 1512. Embora tenha trabalhado como pintor a contragosto, pois preferia a escultura, realizou na capela Sistina afrescos tidos como a expressão máxima da arte pictórica do Renascimento.

Em 1513 o artista finalmente conseguiu renegociar o contrato do mausoléu com os herdeiros de Júlio II. O projeto foi reduzido e Michelangelo idealizou para o sepulcro sua célebre estátua "Moisés", de mármore, e duas figuras torturadas de escravos.

Os Medici haviam retomado o poder em Florença em 1512, e os papas Leão X e Clemente VII, membros dessa família, encarregaram Michelangelo de vários projetos a serem realizados em Florença, onde o artista residiu ocasionalmente entre 1514 e 1534.

Em 1520, Michelangelo comprometeu-se a projetar uma capela mortuária na igreja de São Lourenço, que deveria abrigar os sepulcros da família Medici e, em 1524, Clemente VII encarregou-o do projeto da Biblioteca Laurenziana.

No mausoléu dos Medici, as estátuas de Juliano e Lourenço o Magnífico, dispostas em nichos sobre as tumbas, representaram um novo ponto de partida no campo da escultura funerária. Sob elas, Michelangelo acrescentou quatro figuras em mármore que representam o mundo terreno em gradações do dia: "Aurora", "Dia", "Crepúsculo" e "Noite". Também construiu o recinto solene da capela que, apesar da extrema simplicidade das linhas arquitetônicas, é para muitos a maior obra do artista.

No período republicano que se seguiu à queda dos Medici, Michelangelo colaborou ativamente na vida pública florentina e projetou a fortificação da cidade contra os ataques dos exércitos papal e imperial.

Derrotada Florença, e com os Medici de novo no poder, o artista concluiu a obra do sepulcro. Em 1534, nomeado pelo papa Paulo III escultor, pintor e arquiteto oficial do Vaticano, fixou residência definitiva em Roma.

Entre 1536 e 1541, realizou no altar da capela Sistina o grande afresco "Juízo final". A gigantesca composição aparece dominada pela vigorosa figura de Cristo que, como juiz universal, ordena a salvação dos bem-aventurados e o castigo dos pecadores. A obra reflete de forma dramática as inquietudes espirituais do já idoso Michelangelo.

Em seus últimos anos de vida, os encargos e projetos do artista foram principalmente obras de arquitetura. A partir de 1546, criou as janelas do segundo andar e a grande ante-sala do Palazzo Farnese, em Roma.

Em 1538, já tinha transferido a estátua antiga do imperador Marco Aurélio para o centro da praça do Capitólio, que ele reurbanizou. Entre 1561 e 1564 construiu, dentro das ruínas das termas de Diocleciano, a grande igreja Santa Maria degli Angeli.

A partir de 1547, dirigiu os trabalhos da basílica de São Pedro; a grande cúpula da basílica é de sua autoria. Entre as esculturas de seus últimos anos, destaca-se a "Pietà Rondanini".

Alternou o trabalho em outras áreas com a criação de uma obra poética de grande sensibilidade, escrita a partir de 1530. O conjunto de seus textos, com justiça caracterizados como uma "biografia espiritual", reúne mais de 300 sonetos, madrigais e outros tipos de poemas, inclusive fragmentos inacabados.

Celebrado como grande personalidade artística de seu tempo, Michelangelo morreu em Roma, em 18 de fevereiro de 1564, aos 88 anos de idade.

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